terça-feira, 12 de março de 2019

Início do Filosofar!

A PÓLIS E O NASCIMENTO DA FILOSOFIA

·      O declínio do mundo dos mitos

Na história do pensamento ocidental, a filosofia nasce na Grécia entre os séculos VII e VI a.C.,  promovendo a passagem do saber mítico (alegórico) ao pensamento racional (logos). Essa passagem ocorreu, no entanto, durante longo processo histórico, sem um rompimento brusco e imediato com as formas de conhecimentos utilizadas no passado.

·  O exercício da razão na pólis grega

O momento histórico da Grécia Antiga em que se afirma a utilização do logos (a razão) para resolver os problemas da vida está vinculado ao surgimento da pólis, cidade-Estado grega.  A pólis foi uma nova forma de organização social e política desenvolvida entre os séculos VIII e VI a.c. Nela, eram os cidadãos que dirigiam os destinos da cidade. Como criação dos cidadãos, e não dos deuses, a pólis  estava organizada e podia ser explicada de forma racional, isto é, se acordo com a razão.
       A prática constante da discussão política em praça pública pelos cidadãos fez com que, com o tempo, o raciocínio bem formulado e convincente, se tornasse o modo adotado para se pensar sobre todas as coisas, não só as questões políticas.

·         FILÓSOFOS PRÉ – SOCRÁTICOS
 
De acordo com a tradição histórica, a fase inaugural da filosofia grega é conhecida como período pré-socrático. Esse período abrange o conjunto das reflexões filosóficas desenvolvidas desde Tales de Mileto (623-546 a.C.) até Sócrates (468-399 a.C.).
O objetivo dos primeiro filósofos era construir uma cosmologia (explicação racional e sistemática das características do universo) que substituísse a antiga cosmogonia e teogonia (explicação sobre a origem do universo baseada nos mitos).Em outras palavras, os primeiros filósofos queriam descobrir, com base na razão e não na mitologia, o princípio substancial (a arché) existente em todos os seres materiais. Para tanto, procuraram um princípio a partir do qual se pudesse extrair explicações para os fenômenos da natureza. Um princípio único e fundamental que permanecesse estável junto ao sucessivo vir-a-ser.


·           Os pensadores de Mileto: a busca da substância primordial

Quando afirmamos que a filosofia nasceu na Grécia, devemos tornar essa afirmação mais precisa. Afinal, nunca houve, na Antiguidade, um Estado grego unificado. O que chamamos de Grécia nada mais é o que chamamos de cidade-Estado (um conjunto de muitas cidades gregas), independentes uma das outras, e muitas vezes rivais.
No vasto mundo grego, a filosofia teve como berço a cidade de Mileto, situada na Jônia, litoral ocidental da Ásia Menor. A cidade de Mileto abrigou três primeiros pensadores da história ocidental a quem atribuímos a denominação filósofos. São eles: Tales, Anaximandro e Anaxímenes.
Tales vai dizer que o princípio de tudo é a água; Anaximandro, o infinito indeterminado (Ápeiron), Anaxímenes, o ar;

      - Tales de Mileto ( Tudo é água )

Procurando fugir das antigas explicações mitológicas sobre a criação do mundo, Tales queria descobrir um elemento físico que fosse constante em todas as coisas. Algo que fosse o princípio unificador de todos os seres. Inspirando-se provavelmente em concepções egípcias, acresci das de suas próprias observações da vida animal e vegetal, concluiu que a água é a substância primordial, a origem única de todas as coisas. Para ele, somente a água permanece basicamente a mesma, em todas as transformações dos corpos, apesar de assumir diferentes estados: sólido, líquido ou gasoso.

- Anaximandro de Mileto (o indeterminado)

Anaximandro (610-547  a.C.) procurou aprofundar as concepções de Tales sobre a origem única de todas as coisas. Em meio a tantos elementos observáveis no mundo natural — a água, o fogo, o ar etc. —, ele acreditava não ser possível eleger uma única substância material como princípio primordial de todos os seres, a arché. Para Anaximandro, esse princípio era algo que transcendia os limites do observável, ou seja, daquilo que não se situa numa realidade ao alcance dos sentidos. Por isso, denominou-o ápeiron, termo grego que significa o indeterminado, o infinito. O ápeiron seria uma "massa geradora" dos seres, contendo em si todos os elementos contrários.

- Anaxímenes de Mileto ( tudo é ar)

Anaxímenes   (588-524   a.C)  admitia que a origem de todas as coisas é indeterminada. Entretanto, recusava-se a atribuir-lhe o caráter oculto  de  elemento situado   fora   dos   limites   da observação e da experiência sensível. Tentando uma possível conciliação entre as concepções de Tales e as de Anaximandro, concluiu ser o ar o princípio de todas as coisas. Isso porque o ar representa um elemento invisível e imponderável, quase inobservável e, no entanto, observável: o ar é a própria vida, a força vital, a divindade que "anima" o mundo, aquilo que dá testemunho à respiração.

- Pitágoras de Samos ( culto a matemática)

Pitágoras (570-490 a.C., aproximadamente) nasceu na ilha de Samos, na costa jônica, não distante de Mileto. Por volta de 530 a.C, sofreu perseguição política por  causa de suas ideias, sendo obrigado a deixar sua terra de origem. Para Pitágoras, a essência de todas as coisas reside nos números, os quais representam a ordem e a harmonia. Assim, a essência dos seres, a arché, teria uma estrutura matemática da qual derivariam problemas como: finito e infinito, par e impar, unidade e multiplicidade, reta e curva, círculo e quadrado etc. Pitágoras dizia que no fundo de todas as coisas a diferença entre os seres consiste essencialmente, em uma questão de números.

- Heráclito ( o movimento perpétuo do mundo)

Heráclito é considerado o primeiro grande representante do pensamento dialético. Concebia a realidade do mundo como algo dinâmico, em permanente transformação. Daí sua escola filosófica ser chamada de mobilista (de movimento). Para ele, a vida era um fluxo constante, impulsionado pela luta de forças contrárias: a ordem e a desordem, o bem e o mal, o belo e o feio, a construção e a destruição, a justiça e a Injustiça, o racional e o irracional, a alegria e a tristeza etc. Assim, afirmava que "a luta (guerra) é a mãe, rainha e princípio de todas as coisas". É pela luta das  forças opostas que o mundo se modifica e evolui. Atribuem se a Heráclito frases marcantes, de sentido simbólico, utilizadas para ilustrar sua concepção sobre o fluxo e movimentação das coisas, o constante vir-a-ser, a eterna mudança, também chamada devir: “Não podemos entrar duas vezes no mesmo rio, pois suas águas se renovam a cada instante”. Não tocamos duas vezes o mesmo ser, pois este modifica continuamente sua condição.
Assim, Heráclito imaginava a realidade dinâmica do mundo sob a forma de fogo ( arché), com chamas vivas e eternas, governando o constante movimento dos seres.

·                  O INÍCIO DOS ESTUDOS SOBRE O SER E O CONHECER

As discussões sobre os contrários, sobre o ser e não ser, que iniciaram a lógica ( estudos sobre o conhecer) e a ontologia ( estudos sobre o ser) e suas relações recíprocas, conforme veremos a seguir.

- Parmênides de Eleia ( o ente é, pois é ser e nada não é)

Parmênides defendia a existência de dois caminhos para a compreensão da realidade. O primeiro é o da filosofia, da razão, da essência. O segundo é o da crendice, da opinião pessoal, da aparência enganosa, que ele considerava a "via de Heráclito".
Segundo Parmênides, o caminho da essência nos afirma, por exemplo, que na realidade:
a) existe o ser, e não é concebível sua não-existência;
b) o ser é; o não-ser não é.

Em vista disso, Parmênides é considerado o primeiro filósofo a formular os princípios lógicos de identidade e de não-contradição, desenvolvidos depois por Aristóteles (ver estudos sobre noções de lógica).

- Zenão de Eleia

Discípulo de Parmênides, Zenão de Eléia (488-430 a.C.) elaborou argumentos para defender a doutrina de seu mestre. Com eles pretendia demonstrar que a própria noção de movimento era inviável e contraditória.

- Empédocles ( quatro elementos primordiais )

Nascido em Agrigento (ou Acragas), sul da Sicília, Empédocles (490-430 a.C, aproximadamente) esforçou-se por conciliar as concepções de Parmênides e Heráclito. Defendia a existência de quatro elementos primordiais, que constituem as raízes de todas as coisas percebidas: o fogo, a terra, a água e o ar. Esses elementos são movidos e misturados de diferentes maneiras em função de dois princípios universais opostos:
•     o amor (philia, em grego): responsável pela força de atração e união e pelo movimento de crescente harmonização das coisas;
•     o ódio (neikos, em grego): responsável pela força de repulsão e desagregação e pelo movimento de decadência, dissolução e separação das coisas.
Para ele, todas as coisas existentes na realidade estão submetidas às forças cíclicas desses dois princípios.

- Demócrito ( o átomo)

Responsável pelo desenvolvimento do atomismo, Demócrito afirmava que todas as coisas que formam a realidade são constituídas por partículas invisíveis e indivisíveis. Essas partículas foram chamadas de átomos, termo grego que significa "não-divisível" {a = negação; tomo = divisível). A principal contribuição traga pelo atomismo de Demócrito à história do pensamento é a concepção mecanicista segundo a qual "tudo o que existe no universo nasce do acaso ou da necessidade". Isto é, "nada nasce do nada, nada retorna ao nada". Tudo tem uma causa. E os átomos são a causa última do mundo.


















coruja “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. (Saint-

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